Esta é uma publicação mensal da REDES, que é a entidade (associação/ONG) responsável pela gestão e organização de ações sociais da Congregação das Missionárias Servas do Espírito Santo.
O texto fala sobre viver a dimensão da "JUPIC" em nossas vidas cotidianas.
"JUPIC" é a sigla utilizada para "Justiça, Paz e Integridade da Criação".
Boa leitura para vocês !
Publicação Mensal REDES
Julho de 2013
Queridas Irmãs,
Nós, Missionárias Servas do Espírito Santo, e todos os leigos e as leigas
que abraçam nossa espiritualidade e carisma, especialmente os (as) Missionários
(as) Leigos (as) do Deus Uno e Trino e colaboradores (as) que trabalham
diretamente conosco, além de assumirmos a dimensão da Justiça e Paz e
Integridade da Criação (JUPIC) como parte essencial de nossa vida e missão, comprometemo-nos
em tornar JUPIC nosso estilo de vida. Por isso, apresentamos alguns elementos
de reflexão para entendermos melhor o alcance deste compromisso.
JUPIC como estilo de vida
No I Seminário Internacional de JUPIC SSpS, que aconteceu em Steyl
(Holanda), em outubro do ano passado, aprofundando os diversos aspectos de
nossa espiritualidade, vida e missão, sentimo-nos interpeladas a vivenciar os valores do Evangelho,
a partir de uma nova perspectiva e compreensão de JUPIC no mundo de hoje.
Percebemos como os
princípios de JUPIC estão enraizados em nossa Espiritualidade Missionária e
Trinitária e como estes deveriam se manifestar em nossas relações com Deus,
conosco mesmas, com as outras pessoas e com a Criação. Jesus, em sua paixão
pelo Reino de Deus e seus valores, é nosso modelo de JUPIC.
Por isso, somos
convidadas (os) a um olhar contemplativo para os Evangelhos e perceber nas
atitudes, gestos e palavras de Jesus, seu amor compassivo e seu compromisso com
a Justiça, a Paz e a Integridade da Criação, especialmente na maneira como
acolheu os pobres, as mulheres, as crianças, os enfermos e todos quantos
sofriam as consequências de um sistema injusto e opressor.
Mas, concretamente,
para nós hoje, o que significa tornar JUPIC nosso estilo de vida? Vejamos os
compromissos assumidos pelo Seminário Internacional a partir das Diretrizes da
nossa Congregação:
·
Cuidar
da Integridade da Criação;
·
Optar,
conscientemente, pela não violência;
·
Responder
criativamente às realidades de nosso tempo onde a vida está ameaçada;
·
Trabalhar
em rede dentro de nossas Províncias/Regiões, com as SSpS da Adoração Perpétua,
com a Sociedade do Verbo Divino, com VIVAT Internacional, com leigos(as) e
outras organizações.
Cada um dos pontos acima merece aprofundamento e estudo, o que desejamos
fazer futuramente por intermédio de encontros, cursos e seminários. De
imediato, gostaríamos de oferecer algumas pistas para, desde já, vivenciarmos
em nosso dia a dia o compromisso com JUPIC e, aos poucos, mudarmos nossas
atitudes e práticas, convertendo-nos cada vez mais ao Evangelho de Jesus até
que JUPIC se torne, de fato, nosso estilo de vida.
Integrar JUPIC em nossas
comunidades e ministérios
Integrar JUPIC em nossa vida é muito mais do que fazer atividades ou
trabalhos relacionados a questões de JUPIC. Significa, em primeiro lugar,
alargar o nosso olhar e passar a ver o mundo, as situações, as pessoas e tudo o
que acontece ao nosso redor na perspectiva da justiça, da construção da paz e
do cuidado com a natureza, que inclui toda a criação. Isto implica um grande
amor a tudo o que Deus criou e, quem ama, cuida. Portanto, o cuidado com a
vida, especialmente nas situações onde esta se encontra ameaçada, é a
consequência direta da integração de JUPIC em nossa vida.
Nem sempre podemos fazer atos grandiosos em defesa da vida, mas sempre
podemos rezar pelas pessoas que sofrem e pela transformação das situações de
injustiça que promovem a violência e destroem a vida. Também podemos cuidar da
vida tratando bem as pessoas, respeitando seus direitos, combatendo toda forma
de discriminação e exclusão, escutando-as em suas necessidades e ajudando-as
conforme nossas possibilidades.
Cuidar da Integridade da Criação
Outra maneira de cuidar da vida é respeitando o meio ambiente, usando
conscientementeos seus recursos, tais como a água, a energia elétrica, os
diversos tipos de combustíveis e tudo o mais que necessitamos, evitando o
desperdício, a acumulação, a produção indevida de lixo e, sempre que possível,
favorecer a reciclagem e a coleta seletiva do mesmo.
Optar pela não violência
Carregamos a
violência dentro de nós e participamos do círculo vicioso que gera mais
violência. Vivemos mergulhados numa cultura violenta que incentiva e reproduz a
violência, de forma que nos alimentamos dela muitas vezes sem nem mesmo perceber.
Basta observar as músicas, os filmes, os programas de televisão, os jogos e as
brincadeiras de criança.
Quebrar esse
círculo vicioso não é fácil, mas é possível. Como seres humanos, não somos
condenados à violência, mas chamados a construir um mundo de paz. Para superar
a violência, é preciso promover a justiça e o acesso aos direitos humanos. A
maior parte das situações de violência é gerada pela desigualdade e injustiça
social. Não é possível viver em paz e segurança onde há pessoas que passam fome,
que não têm emprego nem acesso à saúde, à educação e ao lazer.
A não-violência é
uma atitude de vida muito diferente da passividade e tem como objetivo, seja
qual for a situação, intervir sem uso de violência para construir relações de
paz. Calar-se diante da injustiça, por medo de encarar os conflitos, é covardia
e omissão e reforça ainda mais a violência.
Jesus é nosso
exemplo na opção pela não violência. Sua vida inspirou muitos outros, cristãos
e não cristãos a seguir por este caminho, como o próprio Gandhi e Luther King.
Como toda violência tem sua origem no coração humano, é lá que temos que
começar a construir a paz, a nos educar e converter para a paz. Observemos
nossos relacionamentos e veremos que há muito que podemos fazer para construir a
paz.
Responder criativamente à realidade
Em geral, em vez de
responder às situações que nos desafiam, nós reagimos com atitudes de defesa ou
de ataque, o que gera agressão e violência. Responder criativamente exige de
nós uma atitude de liberdade interior e capacidade de interagir com as pessoas
e com as situações a partir dos nossos valores e não necessariamente de nossos
sentimentos, pré-conceitos ou julgamentos.
Para isso, necessitamos
ampliar a nossa visão além de nossos interesses pessoais e abrir-nos a tudo
aquilo que representa o bem comum ou os interesses da comunidade, da
coletividade, de toda a humanidade.
Quando olhamos a
complexidade do mundo em que vivemos, com todos os seus problemas, guerras,
corrupção, violência, problemas sociais e tudo o mais, somos tentadas (os) a
nos sentir impotentes e incapazes de fazer qualquer coisa. Esquecemos que os
problemas globais e em nível macro também estão presentes nas situações locais
e no nível mais próximo de nós. Talvez não poderemos influenciar diretamente
nas políticas internacionais, mas podemos fazê-lo em nível local, a partir do
nosso próprio testemunho e compromisso pessoal e comunitário.
Se a nossa presença
estiver impregnada dos valores do Evangelho, faremos diferença onde quer que
estejamos. E quanto mais criativas (os) formos, mais diferença faremos. Se não
pudermos mudar o mundo, comecemos a transformar nossa realidade interior, a
qualidade dos nossos relacionamentos, a coerência entre aquilo que acreditamos
e fazemos e, com criatividade, pelo menos, o mundo ao nosso redor será melhor.
Trabalhar em rede
Tudo no universo
funciona porque está organizado em redes de relações que começam das mais
simples, como os micro-organismos, até as mais complexas, como a infinidade de
estrelas que há no céu. É do equilíbrio e da colaboração entre todos os seres
que a vida se mantém e o cosmo se expande.
Cada vez mais
estamos descobrindo maneiras mais eficazes de ser no mundo e o trabalho em rede
é uma delas. Nossa cabeça foi educada pelo sistema capitalista e neoliberal.
Assim, cada qual tem que alcançar o
máximo de lucro à custa do prejuízo dos demais. Esta lógica é perversa e está
levando à destruição os seres humanos e o Planeta.
Ao contrário, o
trabalho em rede parte de outra lógica, a da colaboração para o bem de todos.
Ninguém precisa sair perdendo. Quando cooperamos uns com os outros, todas as
pessoas se beneficiam e também o meio ambiente.
Isoladamente somos
fracas (os) e sem expressão. Quando nos unimos às outras pessoas e organizações, nos tornamos fortes e capazes de intervir na
realidade em que estamos inseridas (os) e provocar transformações.
Trabalhar em rede
exige mudança dos nossos paradigmas e aprender uma nova cultura, muito mais
próxima dos valores do Evangelho. Significa superar nossa tendência à
competição e somar nossas forças com todos aqueles e aquelas que acreditam nos
mesmos valores e lutam pelas mesmas causas. Significa melhorar a qualidade do
nosso diálogo, superar nossos preconceitos e abrir-nos a quem pensa diferente.
Numa sociedade em rede todos são importantes e necessários. Ninguém é melhor ou
pior que os demais. Cada indivíduo, cada grupo, cada organização, em suas
diferenças e particularidades tem muito a contribuir com o todo.
Conclusão
Estas são algumas
reflexões que acreditamos possam nos ajudar a tornar JUPIC nosso estilo de
vida. Para concluir, apresentamos algumas perguntas para a reflexão pessoal, em
comunidade ou em grupo, de acordo com a possibilidade de cada irmã ou leigo
(a):
1. O que posso fazer para que JUPIC se torne cada
vez mais parte de minha vida pessoal, comunitária e da minha presença nos
locais onde atuo?
2.
Dos pontos apresentados acima, qual gostaria de
dar prioridade no meu dia a dia? Por quê? De que maneira?
Ir. Ana Elídia Neves e Ir. Maria Aparecida Ribeiro
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